10/11/2023
A produção de soja e algodão desempenha um papel vital na economia agrícola global. Nesse cenário o Brasil vem se destacando na última década, como um dos principais produtores de ambas as culturas.
De acordo com as estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a safra 2023/24, a produção mundial de soja está projetada em 399,5 milhões de toneladas, das quais 163 milhões de toneladas devem ser colhidas nas lavouras brasileiras.
Com 48,4% da área total de soja já semeada e 75,7% das lavouras em estádio fenológico em desenvolvimento vegetativo (Conab), a soja está no centro das atenções dos produtores rurais do país.
No entanto, para que as estimativas de produção e produtividade se concretizem, um dos obstáculos enfrentados pelas culturas é a ocorrência de pragas e doenças.
A seguir, vamos apresentar as principais doenças que ocorrem nas culturas da soja e do algodão, principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento.
No cerrado brasileiro, as culturas de soja e algodão enfrentam uma série de desafios fitossanitários em diferentes etapas do seu desenvolvimento.
Dentre as principais ameaças, destacam-se as doenças disseminadas por sementes, as quais exigem controle rápido e antecipado para garantir a saúde e produtividade das lavouras, além de evitar entrada de doenças antes inexistentes nas áreas de produção.
Além disso, os patógenos que afetam as culturas nos estádios iniciais de desenvolvimento e, portanto, nos estádios em que as culturas se encontram mais suscetíveis, também representam uma ameaça a produtividade das culturas.
Para a cultura da soja, existem mais de 40 doenças que causam redução da produtividade da cultura, classificadas em doenças radiculares, doenças de parte aérea e, doenças que ocorrem ao final do ciclo de desenvolvimento da cultura (denominadas de doenças de final de ciclo – DFCs).
Para o cerrado brasileiro, as principais doenças radiculares, causadas por fungos de solo e seus sintomas serão apresentados a seguir:
Os sintomas variam a depender do estádio de desenvolvimento em que a doença. Durante a emergência, causa lesões de coloração marrom-escura, localizadas na região do colo. Baixa umidade no solo, assim como altas temperaturas, são fatores agravantes a ocorrência da doença, que pode se manifestar em fileiras ou reboleiras aleatórias da lavoura. Os sintomas, embora confundidos pela ocorrência de Rhizoctonia solani, não provocam “aprofundamento” e tão pouco estrangulamento do hipocótilo.
Os sintomas da doença incluem estrangulamento do colo, presença de lesões circulares de coloração marrom-avermelhadas, presentes tanto nas raízes quanto no hipocótilo. Posteriormente, essas lesões tornam-se alongadas e deprimidas (causando o aprofundamento dos tecidos).
A seguir, é possível visualizar os sintomas de ambas as doenças, podridão-de-carvão e tombamento de rhizoctonia, para identificação a campo:
Sintomas característicos da presença de microescleródios (pequenas “pontuações” de coloração escura), remetendo a um aspecto cinzento às raízes. Fonte: Gomes et al., 2021.
Sintomas de R. solani, com “aprofundamento” do caule e lesões marrons-avermelhadas, tanto raízes quanto hipocótilo, resultando em murcha, estrangulamento do colo, tombamento e apodrecimento seco das raízes.
Fonte: Goulart, 2019.
Os principais sintomas da doença incluem escurecimento a partir da base da haste principal, afetando a planta de forma homogênea até as ramificações presentes da haste principal. Além disso, o interior do caule torne-se escurecido, assim como ocorre o apodrecimento das raízes.
Um fator importante a ser observado é a escolha dos fungicidas utilizados no tratamento de sementes. Por se tratar de um Oomiceto, ou seja, um fungo não verdadeiro, esse patógeno não responde ao tratamento com fungicidas inibidores da biossíntese de esteróis, como os triazóis. Desse modo, o conhecimento técnico é essencial para a proteção da lavoura.
Sintomas da ocorrência da podridão radicular de fitoftóra, com avanço do apodrecimento da haste principal, de forma completa, além de escurecimento do caule. Fonte: Andrade et al., 2022.
Por se tratar de um patógeno de solo, a doença é observada inicialmente em fileiras ou reboleiras. É possível identificar a presença do patógeno em função da característica de podridão aquosa, bem como, pelo desenvolvimento de uma cobertura branca de micélio (estruturas do patógeno), que se desenvolvem ao longo da haste da planta, iniciando na região do colo. Além disso, pequenas estruturas de coloração escura, podem ser observados em meio ao micélio, que são denominados de escleródios.
Cabe ressaltar que os escleródios, bem como sintomas e estádio de desenvolvimento em que S. rolfsii, agente causal do tombamento ou murcha de Sclerotium, ocorre na cultura da soja é diferente da dinâmica do mofo branco (causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum). Enquanto S. rolfsii ocorre principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento, S. sclerotiorum ocorre preferencialmente durante o estádio reprodutivo da soja.
Sintomas e sinais de S. sclerotiorum em haste de soja. Enquanto os sintomas são caracterizados por necrose dos tecidos, os sinais presentes observados são a presença de micélio branco ao longo dos tecidos das plantas, podendo afetar inclusive, vagens em formação, além de escleródios (estruturas de formato arredondado e coloração escura, que se desenvolvem em meio às estruturas vegetativas do fungo (micélios)).
Fonte: Borges et al., 2020.
Sementes de soja misturadas aos escleródios de S. sclerotiorum. Fonte: Reis e Casa (2012).
Com condições ambientais adequadas para a germinação dos escleródios, formam-se os apotécios (imagem a seguir).
Apotécios formados após a germinação dos escleródios de S. sclerotiorum.
Fonte: Reis e Casa (2012). In: Ximenes, 2013.
Posteriormente as folhas necrosas e caem. Já nas raízes, é possível observar o escurecimento do sistema vascular da planta, com manchas avermelhadas. Para a diagnose da doença, os sintomas observados na parte área devem ser analisados em conjunto com os sintomas radiculares, tendo em vista que folhas com sintomas “carijós”, podem ser confundidas com a ocorrência de outras doenças.
Sintomas característicos da podridão vermelha da raiz, ou síndrome da morte súbita da soja. À esquerda, sistema vascular (parte central da raiz), de coloração normal, saudável. Já à direita, é possível observar o escurecimento interno dos tecidos (avermelhados).
Fonte: Westphal et al., 2008.
Sintoma típico da ocorrência da podridão vermelha ou morte súbita da soja, com desenvolvimento de sintoma de folhas “carijó”, com necrose do tecido foliar entre as nervuras.
Fonte: Neto et al., 2008
Sintomas causados pelo fungo causador da mancha-alvo na soja. Nas folhas, as lesões iniciam com pequenas pontuações de coloração parda, halo amarelado (em torno da lesão, conforme pode ser visualizado na segunda imagem acima, de coloração castanha-clara a escura, que pode atingir até 2 cm de diâmetro. As lesões assemelham-se com um alvo, por isso, a doença é conhecida como mancha-alvo. Fonte: Henning et al., 2014.
Nas fases iniciais de desenvolvimento, os sintomas observados são lesões no hipocótilo, de formato circular, que podem resultar na morte da plântula.
Essas doenças podem afetar tanto as sementes como as plântulas no estágio inicial de desenvolvimento, resultando em prejuízos significativos na produção.
Para evitar os danos causados pelos fungos de solo é indispensável que o tratamento de sementes, bem como um bom manejo da lavoura seja realizado.
Já a lista de doenças foliares inclui doenças que ocorrem desde o início do desenvolvimento vegetativo, até aquelas consideradas de final de ciclo.
Para essas últimas, cabe destacar que embora assim sejam denominadas – de final de ciclo, a infecção no campo ocorre ainda nos estádios iniciais de desenvolvimento, por isso, um bom controle deve ser construído desde o início do estabelecimento da lavoura. Esse é o caso das DFCs conhecidas como mancha-alvo, crestamento-foliar-de-cercospora e mancha-parda.
Principais doenças de parte aérea da soja:
Dessas, para a região do cerrado, a mancha-alvo e antracnose são consideradas as principais, a depender das condições ambientais da safra vigente.
Cabe destacar que para as DFCs, a infecção pelo patógeno pode ocorrer ainda nas fases iniciais de desenvolvimento, no entanto, os danos significativos ocorrem no período reprodutivo da cultura, ou seja, ao final do ciclo.
Sintomas característicos da mancha-alvo em trifólios de soja.
Fonte: Godoy et al., 2023.
Na parte central da imagem (folhas retorcidas, com crestamento), são sintomas característicos do crestamento foliar, causado por C. kikuchii. Já à esquerda, pode ser observado os sintomas característicos da mancha-parda, causada por S. glycines (pequenas pontuações ou manchas de formato angular, de coloração castanho-avermelhadas).
Fonte: Godoy et al., 2023.
Em anos mais secos e quentes, produtores devem ficar atentos ainda, à ocorrência de oídio. Em contrapartida, em anos de maior ocorrência de chuvas, o míldio pode ser favorecido.
O oídio é um parasita obrigatório, ou seja, necessita de plantas hospedeiras vivas para o seu desenvolvimento e ocorre principalmente em anos secos. Na imagem é possível observar diferentes escalas de severidade da doença, em folhas de soja.
Fonte: Maciel et al., 2019.
Enquanto o oídio é caracterizado pela presença de estruturas do fungo, denominadas de micélio, de coloração esbranquiçada que recobrem toda a superfície foliar, o míldio (imagem a seguir), apresenta sinais do patógeno (estruturas do fungo) apenas na parte inferior das folhas.
Sintomas característicos do míldio, com presença de manchas de coloração verde-claro a amarelas, localizadas na parte superior da folha. Já na parte inferior das folhas, é possível observar as estruturas do fungo P. mancshurica, identificado pela primeira vez no Brasil na safra 1066/67.
Fonte: Erlei et al., 2018.
Sintomas de antracnose em estádios iniciais de desenvolvimento da cultura da soja. À esquerda, plântulas recém emergidas, apresentando tecido “deprimido” na região dos cotilédones, com lesões arredondas e circundadas, alternando entre diferentes intensidades de coloração. Em geral, a incidência de C. truncatum é baixa em lotes de sementes, especialmente por se tratar de um fungo de campo, que exige umidade para manutenção da sua viabilidade, e como o armazenamento das sementes exige baixo teor de água.
Fonte: Goulart, 2005.
Já para a ferrugem-asiática, causada pelo fungo P. pachyrhizi, de ampla distribuição no Brasil e no mundo, produtores devem se manter em alerta, uma vez que a janela de semeadura da cultura da soja deve ser maior neste ano agrícola, tendo em vista o atraso da semeadura para a região Sul do Brasil em função do maior volume de chuvas e atraso da semeadura na região Central do país, em decorrência da distribuição desuniforme dos volumes de chuvas.
Os primeiros esporos da doença foram detectados na região central do país, no dia 07/11/2023, nas regiões denominadas Formoso do Araguaia e Lagoa da Confusão, ambas localizadas no Estado do Tocantis.
Mapa de identificação de plantas voluntárias (em amarelo), presença de esporos (cinza) e presença de focos da doença ocorrendo em plantas oriundas da safra 2023/24 de soja no Brasil, disponibilizados pelo consórcio antiferrugem. Fonte: Consórcio Antiferrugem, 2023.
Essas doenças representam um desafio significativo para os produtores de soja no cerrado brasileiro, demandando medidas preventivas e de manejo específicas, tais como:
O conhecimento aprofundado dessas doenças e o uso de técnicas de manejo adequadas se tornam essenciais para garantir a saúde das lavouras.
Lembre-se, um controle efetivo de doenças e, portanto, a manutenção da produtividade da sua lavoura, depende de um manejo adequado, iniciando na escolha de materiais adequados de acordo com as necessidades da sua lavoura, região de cultivo, manejo, bem como, com a utilização de um tratamento de sementes completo.
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