| | EN PT

21/02/2024

Conheça as pragas do algodão durante o estágio reprodutivo

O cultivo do algodão desempenha um papel crucial na economia brasileira, em 2023 o Brasil se manteve como o segundo maior exportador mundial de algodão. Já na safra 2023/24, pela primeira vez, o país deve ultrapassar os Estados Unidos, se consolidando como terceiro maior produtor mundial da fibra. 

Porém, a cultura vem enfrentando desafios significativos durante seus diferentes estágios de desenvolvimento devido à presença de pragas que podem comprometer a produtividade. 

Durante o estágio reprodutivo, as preocupações com as pragas se intensificam, já que os ataques impactam diretamente a formação das maçãs de algodão e prejudicando a qualidade da fibra. 

Neste estágio crítico, pragas como lagartas do gênero Spodoptera spp., o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) e a lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens)  representam ameaças significativas. 

O surgimento dessas pragas durante a fase reprodutiva pode levar a perdas significativas na produção, desafiando os esforços dos agricultores para alcançar colheitas produtivas e de alta qualidade. 

É vital conhecer os danos que essas pragas podem causar nessa etapa crítica do desenvolvimento do algodão, que influenciam diretamente a qualidade da fibra e o rendimento final da cultura. 

Além disso, conhecer as características das principais pragas que atacam o algodão nesse estágio é fundamental para identificá-las e agir de forma eficiente. 

Principais pragas do algodão: características e danos

Lagartas do gênero Spodoptera 

Três pragas de importância significativa para a cultura do algodão são do gênero Spodoptera, sendo elas S. frugiperda, S. eridania e S. comioides. 

Essas lagartas, ao se alimentarem, provocam danos nos órgãos das plantas, resultando em prejuízos consideráveis para os produtores. 

A Spodoptera spp. engloba lagartas polífagas, que se alimentam de uma ampla variedade de alimentos e encontram abundância em sistemas agrícolas compostos não só pela cultura do algodão, mas também do milho, soja, feijão e arroz. 

Isso ocorre devido às mariposas migrarem entre lavouras de espécies vegetais semelhantes, porém semeadas em épocas distintas, assim como entre diferentes espécies vegetais. 

A presença dessas três pragas torna-se evidente ao observar raspagens nas estruturas de frutificação, além da identificação das lagartas, que demonstram uma preferência por se alojar nas flores, entre as pétalas, alimentando-se de anteras e estigmas. 

Quando adultas, as lagartas atingem até 40 mm de comprimento, migrando, posteriormente, para o solo, onde passam pela fase de pupa até emergirem como adultos (mariposas). 

Lagarta-do-cartucho 

A praga conhecida como Spodoptera frugiperda, também conhecida como lagarta-do-cartucho, é uma das principais ameaças para as lavouras de algodão. 

Encontrada em todas as regiões produtoras, essa lagarta não se limita ao algodão, podendo atacar outras culturas, como soja e arroz. 

As perdas decorrentes da infestação por lagarta-do-cartucho podem chegar a até 60% na produção, resultando em prejuízos econômicos anuais estimados em US$ 400 milhões. 

Os ovos, inicialmente de coloração verde-clara, adquirem tons alaranjados após 12-15 horas. 

A fase de ovos têm uma duração de dois a três dias, e uma única fêmea pode depositar até 1000 ovos em camadas sobrepostas, sendo cobertos por uma camada de escamas que se desprende do abdome das fêmeas. 

Ovos de S. frugiperda logo após oviposição (A) e próximos à eclosão das larvas (B). Fonte: Embrapa, 2012. 

As larvas passam por estágios de desenvolvimento, indo de tonalidades claras a pardo-escuro ou esverdeadas, quase pretas. Um traço distintivo da praga é a formação de um “Y” na região frontal da cabeça, embora essa característica não seja sempre evidente. 

Fase larval de S. frugiperda. Fonte: Embrapa, 2012. 

O período de transição para a fase de larva varia de 12 a 30 dias, dependendo da temperatura. Durante essa fase, as larvas começam se alimentando da casca dos ovos e posteriormente das folhas novas das plantas. 

A transformação em pupa ocorre no solo, com uma duração de seis a 55 dias, em função da temperatura, resultando em insetos adultos com uma envergadura média de 4 cm e apresenta dimorfismo sexual nas asas anteriores. 

Pupa de S. frugiperda no solo. Fonte: Embrapa, 2012. 

As fêmeas têm coloração marrom acinzentada uniforme, com manchas orbiculares e reniforme pouco nítidas. 

Nos machos, a coloração é mais escura, com manchas brancas características no ápice e entre as manchas orbiculares e reniforme. A fase adulta perdura por 12 dias. 

Adulto de S. frugiperda. Fonte: Embrapa, 2012. 

Danos: a lagarta-do-cartucho provoca danos no caule, folhas, botões florais, flores e maçãs, sendo que o ataque se torna mais grave entre 40 e 60 dias após o plantio. 

As larvas causam raspagem nas folhas, podendo resultar em perfurações de formatos variados. Em casos de infestação intensa, os colmos são afetados, levando à queda da planta, conhecida como “coração morto”. 

Ataque de S. frugiperda em estruturas reprodutivas do algodão. Fonte: Journal of Econom. Entomology, 2018.

As lagartas das vagens, conhecidas cientificamente por S. eridania, quando recém-eclodidas, apresentam coloração verde e cabeça preta. 

À medida que se desenvolvem, exibem três listras longitudinais amareladas, sendo uma dorsal e duas laterais. 

Lagarta de S. eridaniaI. Fonte: Eddie McGriff, University of Georgia. 

Os ovos são depositados em forma de massa sob as folhas na base do ponteiro, uma fêmea tem a capacidade de depositar até 800 ovos durante seu ciclo de vida. 

Posturas de S. eridania em laboratório, coberta com escamas abdominais (A) e sem cobertura (B). Fonte: Embrapa, 2012. 

O período larval normalmente tem duração de 15 a 19 dias. Após o término do período larval elas passam a fase de pupa no solo em uma profundidade de 5-10 cm e a duração do período pupal é de 9 a 11 dias. 

Os adultos medem de 33 a 38 mm de envergadura, e as asas são de cor cinzenta e marrom, com marcas pretas e marrons escuros de formas irregulares. O padrão da asa é variável, pois alguns indivíduos possuem um ponto de forma pronunciada no centro da asa, outros não o possuem ou apresentam uma faixa preta larga que se estende do centro da asa até a margem. 

Adulto de S. eridania. Fonte: Embrapa, 2012. 

Danos: às partes da planta de algodão que podem sofrer ataque são as sementes, folhas, flores e frutos. O ataque se inicia na emissão dos botões florais e persiste durante o florescimento. 

As lagartas concentram-se na alimentação de folhas e brácteas, raspando a casca das maçãs e potencialmente causando danos aos botões florais. 

 Danos causados por Spodoptera eridania em folhas e estruturas reprodutivas do algodão. Fonte: Ronald Smith, Auburn University, Bugwood.org. 

Lagarta preta e lagarta marrom 

A S. cosmioides, comumente referida como lagarta preta ou marrom, quando adulta a espécie alcança uma envergadura de aproximadamente 40 mm. 

As fêmeas adultas exibem uma coloração parda, adornadas com desenhos brancos nas asas anteriores, enquanto os machos apresentam asas anteriores amareladas com desenhos escuros.  

O padrão distinto nas asas se destaca como um fator de diferenciação marcante entre os sexos. 

O ciclo biológico dessa lagarta começa com ovos esverdeados e claros, depositados em camadas e protegidos por escamas e pêlos para garantir a sua segurança. 

Estágio de S. cosmioides: postura em massa (A), lagarta (B), fêmea adulta (C) e macho adulto (D). Fonte: Unesp, 2009. 

As larvas, são inicialmente de corpo marrom-claro e cabeça preta, sendo que nos primeiros estádios de crescimento, as lagartas apresentam tom pardo-negro-acinzentado com três listras longitudinais alaranjadas, com pontos brancos. 

Acima dos pontos brancos então presentes triângulos pretos apontando para o dorso do inseto. 

À medida que a lagarta cresce evolui para uma tonalidade parda.  

Lagarta de S. cosmioides. Fonte: Embrapa, 2012. 

Durante a fase de pupas tem coloração castanha e suas dimensões variam entre 15 e 30 mm de comprimento e 5 mm de largura. 

Danos: as consequências do ataque dessa lagarta estendem-se a diversas partes da planta, incluindo sementes, folhas, flores e frutos. Essa ampla gama de áreas afetadas ressalta a versatilidade dessa praga na sua busca por alimento. 

O ataque dessa lagarta é especialmente notável desde a fase inicial da emissão de botões florais até o florescimento. 

Durante esse período crítico do ciclo de vida da planta do algodão, a S. eridania demonstra uma voracidade que pode resultar em danos consideráveis às partes vitais da cultura. 

 

Danos causados por S. cosmioides. Fonte: Ronald Smith, Auburn University, Bugwood.org. 

Lagarta das maçãs 

A Heliothis virescens, mais conhecida como lagarta-das-maçãs, representa uma ameaça noturna de grande impacto para as lavouras, especialmente durante o estágio reprodutivo do algodão. 

A mariposa adulta desta espécie atinge aproximadamente 18 mm a 20 mm de comprimento e possui uma envergadura de cerca de 35 mm. 

Suas asas anteriores, castanhas, exibem uma mancha escura no centro e uma franja na ponta, enquanto as asas posteriores são claras, também com uma franja escura. 

Com hábitos noturnos, essas mariposas iniciam suas atividades ao entardecer. 

O ciclo biológico dessa praga compreende 33 dias, desde a postura dos ovos até a fase adulta. Essa rápida transição destaca a urgência no controle efetivo para evitar danos significativos à cultura do algodão. 

Os ovos são depositados individualmente nos ponteiros das plantas em brotos novos, flores e frutos.  

Os ovos são esféricos, achatados na base, com coloração branco amarelada, tornando-se cinza quando próximos da eclosão. 

Uma única fêmea adulta possui uma notável capacidade reprodutiva, sendo capaz de depositar até 600 ovos 

Esse alto índice reprodutivo destaca a potencial proliferação rápida e a necessidade de estratégias preventivas. 

Ciclo de H. virescens: Adulto (A), ovo (B), lagarta (C), pupa (D). Fonte: Lins, Luiz Carlos, UFG, 2014. 

As lagartas recém-emergidas apresentam coloração creme e possuem várias fileiras de tubérculos escuros na face superior do corpo, conforme o desenvolvimento a começa ficar evidentes em suas cerdas, micro-espinhos presentes em seu segundo e oitavo segmento abdominal, característica marcante que diferencia H. virescens das espécies de Helicoverpa spp. 

Diferença entre lagartas de H. virescens (A) e Helicoverpa spp. (B) pela presença e ausência de micro-cerdas no oitavo segmento. Fonte: Lins, Luiz Carlos, UFG, 2014. 

Danos: às partes da planta vulneráveis ao ataque da lagarta das maçãs incluem ponteiros, folhas, botões florais e maçãs. 

Lagarta-da-maçã atacando botão floral, flor e maçã de algodão. Fonte: Lab. MIP – Unesp, 2015. 

O período crítico do ataque ocorre desde a fase inicial dos botões florais até o desabrochar. Durante esse intervalo, as lagartas, ao eclodirem, concentram sua alimentação em partes cruciais do algodoeiro, causando danos significativos antes mesmo do florescimento completo da planta. 

Ao eclodirem, consomem partes do ponteiro, folhas e botões florais. Posteriormente, ao atacar as maçãs, criam buracos que favorecem o desenvolvimento de microrganismos, levando ao apodrecimento. 

Uma única lagarta tem o potencial de destruir seis botões florais e uma maçã, ressaltando a urgência no controle para preservar a integridade da colheita. 

H. virescens atacando botão floral, flor e maçã de algodão. Fonte: MIP – Unesp, 2015.

Bicudo-do-algodoeiro 

A praga denominada cientificamente como Anthonomus grandis é comumente conhecida como bicudo-do-algodoeiro.  

Esta praga é responsável pelos maiores danos nas lavouras de algodão, atingindo uma taxa de destruição de 70% da lavoura em apenas uma safra. 

Sua habilidade reprodutiva, a devastação que causa nas plantações e no produto final destinado ao comércio, aliadas à dificuldade de controle, tornam-na responsável por mais de 50% dos custos com inseticidas nas produções do Centro-Oeste do país. 

Os produtores podem gerar um gasto de US$200 a mais por hectare para controle da praga. 

O bicudo-do-algodoeiro exibe coloração castanha na fase juvenil e cinza na fase adulta. 

Seu nome deriva do prolongamento da cabeça, que forma uma espécie de bico (rosto), cujas mandíbulas afiadas são responsáveis pela perfuração dos botões florais, característica marcante da praga. O par de antenas apresenta formato de V. 

Os ovos, de coloração esbranquiçada e em média 0,8mm de comprimento, eclodem de três a quatro dias após a postura. 

Adulto do bicudo-do-algodoeiro (A. grandis). Fonte: ABAPA – Associação Baiana dos Produtores de Algodão. 

As larvas, são brancas e com cabeça em tons pardos, apresentando de 5 a 7 mm de comprimento e surgem dentro dos botões florais. 

As larvas se alimentam do interior dos botões por sete a 12 dias, transformando-se em pupas em seguida. 

As pupas, de cor branca a creme, mostram partes do corpo adulto, como o rosto, pernas e asas, durante uma fase que dura de três a cinco dias. 

Os adultos, com coloração cinza ou castanha, medem, em média, sete milímetros de comprimento (o tamanho pode variar conforme a disponibilidade de alimento na fase de pupa) e são cobertos por pêlos pequenos e dourados. 

Desenvolvimento do bicudo-do-algodoeiro (A. grandis). Fonte: IMAmt, 2023. 

Dois espinhos no fêmur são uma característica importante para identificação. Essa fase pode durar de 20 a 40 dias, sendo que as fêmeas vivem em média de 20 a 30 dias. 

As fêmeas depositam 2 ovos por dia no interior dos botões florais, uma estratégia para protegê-los de predadores e danos climáticos.  

O bicudo-do-algodoeiro pode apresentar de três a sete gerações durante uma mesma safra. 

Danos: O ataque concentra-se nos botões florais, resultando em perfurações que levam à destruição completa. 

O amarelecimento e queda dos botões também são características da ação da praga. 

Na ausência de estruturas de frutificação, os adultos se alimentam de folhas cotiledonares, pecíolos das folhas e pontas das hastes. 

Se não controlado desde o início, o campo torna-se infestado pela praga, e os efeitos são irreversíveis. O controle do bicudo deve ser realizado durante a entressafra. 

Presença de larva do bicudo-do-algodoeiro (A. grandis) em maçã do algodão. Fonte: Revista Cultivar, (Foto: Eduardo M Barros), 2020. 

Mosca-Branca  

No universo das pragas que assolam as lavouras de algodão, destaca-se a ainda, a mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B), com presença constante ao longo de todo o ciclo da cultura. 

Os adultos, com aproximadamente 2mm de comprimento, infestam as folhas do algodão na lavoura. 

 

Foto aproximada de moscas-brancas (B. tabaci biótipo B). Fonte: Embrapa, 2023. 

Os ovos, inicialmente de coloração amarelada, escurecem próximo à eclosão das ninfas. 

Estas, por sua vez, permanecem translúcidas, preferencialmente na face inferior das folhas. 

Ninfas de mosca-branca (B. tabaci biótipo B). Fonte: Embrapa, 2006. 

Quando adultos possuem coloração amarelo-pálida, o seu tamanho é de 1 a 2 mm, sendo a fêmea maior que o macho. 

Quando em repouso, as asas são mantidas levemente separadas, com os lados paralelos, deixando o abdome visível. 

O ciclo de vida da mosca branca é sensivelmente influenciado pelo clima, com uma maior incidência em períodos mais quentes. 

Danos: os danos causados por esta espécie abrangem tanto efeitos diretos quanto indiretos no cultivo do algodão. 

Os danos diretos estão vinculados à alimentação da mosca branca, que se alimenta por sucção da seiva, podendo resultar no enrolamento de folhas jovens. 

Os danos indiretos manifestam-se na formação do honeydew, uma substância açucarada que favorece o desenvolvimento do fungo conhecido como fumagina. 

Fumagina na pluma do algodão.  Fonte: Phillip Roberts, University of Georgia, Bugwood.org. 

Esse fungo, por sua vez, desencadeia a queda prematura das folhas, devido às dificuldades enfrentadas na realização da fotossíntese. Ademais, compromete a qualidade das fibras do algodão, culminando na redução do seu valor de mercado. 

Além das implicações diretas na saúde das plantas de algodão, a mosca-branca desempenha um papel significativo como vetora de viroses. 

A transmissão do vírus “mosaico-comum“, uma das principais doenças que afetam o algodão, destaca-se como uma consequência prejudicial do ataque deste patógeno.

Este vírus provoca a redução da área foliar e a queda de flores e frutos, contribuindo para um impacto considerável na produção de algodão. 

Mosaico-comum no algodão. Fonte: IMAmt. 

Saber identificar as pragas que acometem a cultura do algodão no início da incidência é o primeiro passo para um controle de qualidade.  

Assim medidas de controle intensificadas e estratégias preventivas podem ser adotadas, contribuindo para que os agricultores consigam conter as pragas que assolavam as lavouras de algodão durante o estágio reprodutivo. 

Com isso, a qualidade da fibra de algodão é preservada, garantindo colheitas produtivas e rentáveis para os agricultores, e contribuindo para a estabilidade da cotonicultura. 

Publicações Relacionadas

Conheça as pragas do algodão durante o estágio reprodutivo

Descubra as principais pragas do algodão que causam danos no estágio reprodutivo da cultura e aprenda a identificá-las para realizar o controle correto.

Doenças do algodão pra ficar de olho no início do desenvolvimento das lavouras

Descubra quais doenças do algodão atacam a cultura nos estágios iniciais e entenda como identificá-las para garantir uma lavoura saudável.

07/02/2024

Colheita da sojua

Andamento da colheita da soja: cuidados importantes

Fique por dentro do avanço da colheita da soja no Brasil na safra 2023/24 e conheça práticas para garantir qualidade e rendimento na operação.

31/01/2024

Do nosso campo para a sua lavoura: conheça os bastidores da SLC Sementes

Entenda os processos envolvidos na produção de sementes da SLC Sementes e as etapas que seu lote enfrenta até chegar na sua fazenda.

24/01/2024