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18/10/2023

O que é o fenômeno El Niño e como ele deve impactar na safra 2023 para as principais culturas agrícolas do Brasil?

Desde o seu início, a agricultura tem desenvolvido papel fundamental para a economia global, mais do que isso, a sua implementação de forma sustentável a transformou em uma garantidora da segurança alimentar e do desenvolvimento socioeconômico em diversos países.

Tendo como uma de suas principais características o desenvolvimento constante por meio de novas tecnologias e a utilização eficaz dos insumos, a produção agrícola passou por várias transformações, principalmente nas últimas décadas, nas quais foi possível observar um grande salto nos seus indicadores de produtividade.

Assim como no resto do mundo, para a agricultura brasileira não foi diferente e, cada vez mais, os produtores são capazes de produzir mais com menor emprego de recursos naturais, sejam eles renováveis ou não.

No gráfico abaixo, por exemplo, é possível observar um comparativo entre a safra 23/24 e 80/81, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, o país mais que dobrou a sua produtividade em culturas como soja, milho e algodão.

Adicionalmente, devido à transformação de pastagens degradadas em áreas agricultáveis, o Brasil tem se consolidado com grande potencial para contribuir com a redução das emissões de carbono no contexto mundial.

Gráfico 1. Produtividade de soja, milho e pluma de algodão no Brasil nas safras 2023/24 e 1980/81.

Produtividade soja

Fonte: Conab. *Última estimativa da CONAB em out/23.

Apesar dos avanços até o momento permitirem maior autonomia aos agricultores para definição de suas áreas de plantio, manejo eficiente do solo e, até mesmo no melhoramento genético das cultivares, uma parte da equação ainda traz complexidade para a produção: o clima.

Em se tratando de clima, é possível citar diversas variáveis e fenômenos que têm a capacidade de alterar seus padrões de influência, entretanto, os mais destacados nas análises agrícolas são os fenômenos El Niño e a La Niña.

Por se tratar de fenômenos com efeitos antagônicos, é comum encontrar publicações que abordem ambas as ocorrências. Porém, devido ao fato de que no ano de publicação desse artigo (2023), se iniciar um novo ciclo de El Niño, o foco desse material ficará sobre como ele se dá e, principalmente, como a sua influência sobre o regime de chuvas pode impactar na produção agrícola brasileira.

O que é o fenômeno El Niño e quais os impactos na distribuição das chuvas nas diferentes regiões do país

Caracterizado como um fenômeno atmosférico-oceânico de duração indeterminada, o El Niño     é o aquecimento das águas do Pacífico, mais especificamente, na região próxima à linha do equador denominada Niño 3,4 e, caso ocorram por cinco períodos de três meses consecutivos temperaturas acima de 0,5ºC na região é confirmada a ocorrência do El Niño.

Figura 1. Temperatura da superfície do mar na região 3,4 do Pacífico (Cº).

El Niño

Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration – NOOA.

*Última estimativa do NOOA em 06.set.23.

Dinâmica do fenômeno El Niño

Em um cenário de temperatura e pressão atmosférica “normalizados” os ventos que sopram do continente Sul-Americano em direção ao Pacífico têm um maior potencial de arrasto o que faz com que a temperatura do ar na superfície da água se resfrie e, ao encontrar o ar mais quente na Oceania. Assim, caso não existam outras interações anómalas na atmosfera, um fluxo de chuva “normal” na América do Sul, é mantido.

Efeito do El Niño

Quando sob o efeito do El Niño, o oceano Pacífico começa a ficar mais quente e, devido à mudança na pressão atmosférica, ocorre uma redução no potencial de arrasto dos ventos que sopram do continente Sul-Americano para o Pacífico.

Dessa maneira, as chuvas ficam concentradas no oceano e por não ter tempo hábil para o ar se resfriar e recuperar a umidade, uma massa de ar quente e seca adentra a América do Sul.

Figura 3. Ocorrência de chuvas em períodos de El Niño.

Ocorrência de chuvas em períodos de El Niño

Fonte: CMS.

Em virtude da falta de umidade no ar ocasionada pela ocorrência das chuvas no oceano, os impactos do El Niño na América do Sul e, consequentemente no Brasil, são descritos como uma menor quantidade de chuva e temperaturas elevadas para estados e países na região central e ao norte do país, representadas pelas cores vermelha e marrom na imagem que segue (Figura 4).

Por outro lado, para as regiões ao sul, é esperado um aumento considerável nos volumes pluviométricos, que tende a se concentrar ao longo de toda a primavera e nos períodos de transição do outono para o inverno, aqui representados pela cor verde.

Figura 4. Variação climática em períodos de El Niño.

Variação climática em períodos de El Niño

Fonte: NOOA.

Mas porque no Sul da América do Sul chove, se o mesmo ar quente e seco atinge todo continente?

Aqui entra a última parte da equação climática. Comumente, os ventos que sopram do Atlântico para o continente, Massa Polar Atlântica – MPA, trazem consigo temperaturas mais baixas e uma maior quantidade de umidade. Esse que é um fenômeno perene, é um dos responsáveis por levar umidade para todo o território brasileiro.

Figura 5. Movimento das massas de ar em períodos normais.

mento das massas de ar em períodos normais

Fonte: Geografia opinativa.

*mEa: massa equatorial atlântica; mEc: massa equatorial continental; mTc: massa tropical continental; mTa: massa tropical atlântica.

Entretanto, com a ocorrência do El Niño, a massa de ar quente e seca presente na parte central do continente impede que o ar oriundo do Polo Sul avance pelo país e faz com que a ocorrência das chuvas fique concentrada ao sul do continente.

Figura 6. Posicionamento da massa de ar quente e seca originada pelo El Niño.

Posicionamento da massa de ar quente e seca originada pelo El Niño

Fonte: Geografia opinativa.

*mEa: Massa equatorial atlântica; mEc: massa equatorial continental; mTc: massa tropical continental; mTa: massa tropical atlântica.

Quais as consequências práticas do El Niño na produção agrícola do Brasil?

Impactos para a cultura da soja

Apesar dos impactos do El Niño, a CONAB verificou um incremento na área destinada à semeadura de soja no Brasil  de 2,5% para a safra 23/24 ante a safra 22/23. Mais do que isso, o órgão projeta um aumento na produção inclusive da região Norte (+4,7%) e Nordeste (1%), que tendem a ter um clima seco e com temperaturas acima da média.

E para a cultura do milho?  

Em virtude dos possíveis impactos do El Niño, redução do volume de chuvas e aumento de temperatura no cerrado, existe uma expectativa de redução nas áreas de milho para estados lá localizados o que pode impactar na produção nacional. Corroborando com a análise, estão os dados da CONAB que projetam uma redução na área e produção em 4,8% e 9,5% respectivamente.

Perspectivas para o algodão

Para o algodão o cenário também é complexo pois, grande parte da expectativa sobre o tamanho das áreas de plantio ficou sobre os possíveis preços no mercado futuro.

O que vale ressaltar, entretanto, é o fato de que para os agricultores que já têm a estrutura necessária para produzir algodão, a cultura tende a ganhar mais espaço, principalmente sobre as áreas de milho segunda safra no cerrado.

Repare que no Estado do Mato Grosso, a redução na área de milho 2ª safra pode ser na ordem de 4,9% enquanto a de algodão pode aumentar em 1,5%, segundo a CONAB. Para a Bahia que pratica majoritariamente o sistema solteiro, a readequação de áreas também é evidente, por lá as áreas de milho tendem a reduzir em 5,8% enquanto a de soja e algodão devem aumentar em 4,2 e 9,3% respectivamente, segundo a CONAB.

E o que efetivamente nos espera para a safra 2023/24?

A safra 2023/24, assim como a 2022/23 se inicia repleta de desafios e, para além das circunstâncias climáticas, a insurgência de uma nova guerra tende a trazer ainda mais incertezas para o mercado e para os produtores.

Apoiada no cenário descrito até aqui, a CONAB projeta uma produção de grãos 1,5% menor na safra 2023/24 ante a safra 2022/23 o que pode trazer novos direcionamentos de preços até que as projeções sejam confirmadas ou não.

Na SLC Sementes, nosso compromisso é cultivar o futuro ao seu lado em todos os ciclos de cultivo. Conheça nosso site para obter informações detalhadas sobre nossos processos produtivos e nosso portfólio completo de  sementes de soja e algodão para o Cerrado brasileiro. 

 

Texto elaborado pelo Analista Sênior de Inteligência de Mercado, Emanuel Salgado de Paula.

Emanuel é Economista pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Pós-Graduado em Agronegócio pela Escola Superior em Agricultura Luz de Queiroz (ESALQ).

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